domingo, 12 de abril de 2015

Acupuntura, chakras e a unidade da Ásia


O livro “Acupuntura e o sistema de energia dos chakras” de John R. Cross compara as abordagens da medicina tradicional chinesa e a acupuntura ocidental moderna com o sistema de energia dos chakras relacionado à filosofia ayurvédica. As dificuldades desta complexa comparação são superadas explorando, não a origem asiática dos sistemas etnomédicos enunciados, e sim sua relação com a prática clínica descrita segundo o paradigma científico atual, no qual se insere a medicina cosmopolita moderna com sua precisa descrição de patologias, plexos nervosos, glândulas e hormônios.

Uma forma lógica de compreender tais sistemas etnomédicos seria a abordagem histórico antropológica que se depara com a complexidade das interações entre tais povos ao longo dos milhares de anos de sua formação e contato, mas aparentemente interessa a Cross sobretudo, a sobrevivência enquanto conhecimento (um sistema semiótico) e prática médica (conhecimento empírico). Contudo não há como negar a demanda por uma abordagem simultaneamente sincrônica e diacrônica que este tema nos exige, sendo o sincrônico o aspecto estático estrutural do sistema e diacrônico tudo que diz respeito à sua evolução.

Por outro lado uma análise superficial da evolução desta medicina tradicional oriental sem dúvida se depara com dois centros ou conjuntos de crenças e práticas, que por sua vez poderiam ser subdivididos até a sua origem na civilização original, e se constituem no que hoje conhecemos e praticamos no ocidente como yoga/ medicina ayurvédica e acupuntura / medicina tradicional chinesa, apesar da diversidade sócio-cultural política e econômica dos cerca de 50 países que formam a Ásia no início do século XXI.

Este enigmático continente, aos olhos dos europeus e colonizados, tem em comum a origem da civilização e se caracteriza como uma representação nossa do exótico oriente. A adoção de costumes e especiarias orientais não é nenhuma novidade para os ocidentais.

O estudo sobre a origem da civilização ocidental, a rigor não pode negar sua antiguidade oriental e relação com a China e Índia, o que se insere na perspectiva de uma análise na ótica da antropologia das civilizações letradas, e dispersão dos míticos indo-europeus unificados pelos romanos e cristãos em conflito com a expansão árabe e proposição do Islã. Fomos unificados pelo comércio (mercantismo), ciência (renascentista) e capitalismo industrial. O que se verifica numa perspectiva da moderna economia política que tenta decifrar os destinos das revoluções socialistas da Rússia e China e os divergentes Tigres Asiáticos (Cingapura, Taiwan, Hong Kong e Coréia do Sul - modelados pelo Japão?) como cenário do atual paradigma científico na Ásia (e no mundo moderno).

O desafio é analisar o maior dos continentes, do qual fazem parte mínimo metade da população do mundo e que conta atualmente 2.000 línguas, mas pode-se pensar numa unidade da Ásia por esses povos possuírem além de uma origem comum, muitos costumes semelhantes. Alguns possivelmente induzidos pelas grandes religiões (islamismo, hinduísmo, budismo, taoísmo, xintoísmo etc.) e entre estes costumes, de longe, se destaca a medicina tradicional.

São por demais conhecidas as semelhanças entre os conceitos da energia regulada por relações análogas as observadas entre os elementos da natureza água, fogo, terra, ar, éter (Índia) ou madeira (China) e desconhecidas as rotas de contato e dispersão entre culturas tão díspares como as Grécia, Índia e China.

Além do uso de plantas medicinais que se tornaram medicamentos ou ainda são consumidas in natura a própria acupuntura e yoga foram reintroduzidos na cultura ocidental com ampla dispersão no século XX. Tais sistemas, entretanto, foram mantidos em “compartimentos” estanques” apesar da origem comum e semelhança conceitual já demonstrada por muitos autores notavelmente Madel Luz (1988), Gabriel Stux (1994) e Svoboda, R. & Lade, A. (1998).

O livro de John R. Cross (2008) “Acupuntura e o sistema de energia dos chakras tratando a causa das doenças” recentemente traduzido (Lucimeire Sant’Anna) e lançado no Brasil (Editora Manole, 2010) corresponde a uma tese de doutorado apresentado a Britsh College of Acupuncture, em 1987, com o título de “O uso da acupuntura relacionado ao sistema de energia dos chakras” e essencialmente se constitui como um manual prático para quem já conhece e pratica arte médica da acupuntura e tem conhecimento das técnicas de meditação yogue.

Enquanto tese de doutorado, com se sabe, procede de uma cuidadosa revisão dos textos teóricos de tais práticas já utilizados no ocidente e países de língua inglesa. Seu autor, John R. Cross mora na Ilha de Skye (Escócia) prática e ensina medicina ortodoxa, tradicional (fisioterapia) e complementar há quase 40 anos. Entre seus interesses está o estudo da dor e doenças musculoesqueléticas.

Sua linha de interpretação da prática clínica que exerce, se insere nitidamente no plano das comparações de tais técnicas com a reflexoterapia e controle/estimulação do sistema nervoso autônomo, observando a clássica correlação dos chakras com glândulas do sistema endócrino e emoções, entendidas mais como sentimentos acessíveis aos relatos verbais que comportamentos.


Explora simultaneamente, embora brevemente, as concepções e possibilidades de interpretação espiritual enquanto aura ou energia etérea/eletromagnética e a intervenção biomagnética nas distintas regiões do corpo denominadas chakras na tradição indiana, com respectiva correspondência aos pontos de acupuntura. Com excelentes ilustrações, é por excelência uma recomendação que não se fundamenta apenas no exercício clínico, mas também na interpretação de tradições milenares tomadas como parâmetro, organizadas na forma de prescrições de fácil verificação, em uma forma de prática clínica que paulatinamente vem se consolidando na medicina cosmopolita ocidental.

Referências

Luz, Madel T. Natural, Racional, Social ; Razão Médica e Racionalidade Científica Moderna, Rio de Janeiro, Ed. Campus, 1988

Svoboda, Robert; Lade, Arnie. Tao e Dharma, medicina chinesa e ayurveda. SP, Pensamento, 1998

Stux, Gabriel, Chakra acupuncture. Medical Acupuncture, 1994 Volume6 / Número 1

Said, Edward W. Orientalismo. O Oriente como invenção do Ocidente. SP, Companhia de Bolso, 2007

VER TAMBÉM

Acupuncture and the Chakra Energy System: Treating the Cause of Disease
John R. Cross Google Books

Healing with the Chakra Energy System:
Acupressure, Bodywork, and Reflexology for Total Health
John R. Cross Google Books 


John Cross Clinics & Publications
http://www.johncrossclinics.com

John Amaro The Caduceus, Chakras, Acupuncture and Healing, Part One Acupuncture Today – May, 2003, Vol. 04, Issue 05 https://www.acupuncturetoday.com/mpacms/at/article.php?id=28191 John Amaro The Caduceus, Chakras, Acupuncture and Healing, Part Two Acupuncture Today – July, 2003, Vol. 04, Issue 07 https://www.acupuncturetoday.com/mpacms/at/article.php?id=28236

Chase C.R. 
The Geometry of Emotions: Using Chakra Acupuncture and 5-Phase Theory to Describe Personality Archetypes for Clinical Use. Med Acupunct. 2018;30(4):167-178. doi:10.1089/acu.2018.1288 PMC

Shang C. Emerging paradigms in mind-body medicine. J Altern Complement Med. 2001 Feb;7(1):83-91. doi: 10.1089/107555301300004565. PMID: 11246939. PMC

Chauhan M.S .



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