segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O SISTEMA ETNOMÉDICO CHINÊS

Medicina tradicional X Ciência moderna

A especificidade da medicina tradicional chinesa não torna essa prática essencialmente distinta de outros sistemas etno - médicos, exceto, porém, por sua notável semelhança com a medicina hipocrática - a quem se atribui a origem da moderna medicina cosmopolita. O estudo de sua história revela seu rompimento com algumas tradições "mágicas" e incorporação do conhecimento empírico proveniente de cuidadosas observações que se consolidaram no que vem sendo chamado de paradigma do Yin - Yang e dos Cinco Elementos, descrito em livros clássicos, para os orientais, a exemplo do livro do Imperador Amarelo, documentos etnológicos brutos para o ocidental que utiliza as ferramentas conceituais da antropologia estrutural na proposição de Levi Strauss.

A presente proposição é, tomando como referência as concepções da MTC sobre o cérebro, mar de medula (suǐ hǎi) ou mar de dentro, analisar as características míticas e empíricas do sistema etnomédico chinês, na busca de identificar a lógica de construção do raciocínio clínico inerente a essa prática cultural, analisando simultaneamente as atuais perspectivas de integração da acupuntura ao sistema de saúde mental com suas diversas profissões, saberes e especificidades de sua utilização profissional.

Suǐ Hǎi


O texto acima é o resumo (abstract) da monografia de especialização do autor na Clínica Escola Científica de Acupuntura - CLIMA vinculada à ABA Associação Brasileira de Acupuntura – Seção da Bahia intitulada : O "mar de dentro" um estudo da concepção de cérebro, mente e espírito no sistema etnomédico chinês que teve como orientador: Jurecê Jorge Machado (Fevereiro de 2003).


Ver também textos proposições na Wikipédia:

Acupuntura e psicologia

Médicos de pés descalços

Profissões da área da saúde

sábado, 5 de setembro de 2009

Ásia 亞洲

A medicina tradicional chinesa (em chinês 中醫, zhōngyī xué, ou 中藥學, zhōngyaò xué), é a denominação usualmente dada ao conjunto de práticas de medicina tradicional em uso na China, desenvolvidas ao longo dos milhares de anos de sua história.

Paradoxalmente subdivide-se em escolas e especificidades de experiências ou tradições que ainda podem ser constatadas quando se estuda diferentes autores, segundo suas origens ou formação. O Ministério da Saúde Pública da República Popular da China contornou essa pluralidade de concepções, quanto a detalhes da aplicação de agulhas, diagnóstico de patologias das distintas concepções etno-regionais, etc., estabelecendo uma nova base de pesquisa empírica a partir do treinamento dos "médicos de pés descalços", (atualmente “médicos rurais”) e da publicação do Livro dos Quatro Institutos que reuniu as experiências e tradições da Escola de Medicina Tradicional Chinesa de Beijing; Escola de Medicina Tradicional Chinesa de Shanghai; Escola de Medicina Tradicional Chinesa de Nanjing e Academia de Medicina Tradicional Chinesa, um livro amplamente divulgado na China e em todo o mundo.

Não poderíamos fugir dessa complexidade pois a China é a mais antiga das grandes Nações, as dimensões de sua tradição são mais de 5000 anos de historia, é o terceiro maior país da terra em extensão territorial (9,56 milhões de Km2) e a mais povoada nação do mundo (1,3 bilhões de habitantes) subdivididas em 56 Etnias, 55 destas (com 60 milhões de pessoas) reconhecidas oficialmente com seus costumes e estilos de vida, cercadas pela população majoritária (93%) que se considera chinesa e se auto denomina Han (originária de um grupo do norte que dominou a China por 400 anos). Apesar de possuir distintos idiomas do ramo ramo sino-tibetano e dialetos, a comunicação entre eles tornou-se possível pela utilização de uma mesma escrita, que, como se sabe foi e é um poderoso fator da unidade cultural e política, introduzido oficialmente durante o breve governo da dinastia Qin 秦朝 por volta de 200 a.C. seguido e mantido pela dinastia Han 漢朝 (206 a.C. até 220 d.C) sendo esse possivelmente um fator de sua hegemonia

Por outro lado o entendimento da da medicina tradicional chinesa (MTC) também se insere no conjunto asiático (grego asiático) – Medicinas Antigas bem como os sistemas médicos tradicionais do Japão, da Coreia, da Índia e Tibete que formam a nossa concepção ocidental de "Medicina Oriental". Observe-se também, como assinala Corral, a Medicina Tradicional Oriental não é somente uma medicina e sim uma tradição minuciosamente transmitida através de conceitos universais do lugar existencial do homem. Suas remotas origens de mais de 5.000 anos, antecedem a concepção de “China” (中国)e podem ser consideradas pertencentes a todo oriente. Apesar da complexidade de se analisar o maior dos continentes, que conta atualmente com cerca de 50 países e cerca 2.000 línguas, estes possuem uma origem e muitos costumes semelhantes, possivelmente induzidos pelas grandes religiões (islamismo, hinduísmo, budismo, taoismo, xintoísmo etc.) e formações imperiais que dominaram aquelas populações. Observe-se também que algumas técnicas tipo os usos específicos de plantas medicinais e a própria acupuntura, foram mantidos ou reintroduzidos recentemente.

Alguns autores, por sua vez, exploram as possíveis conexões entre a China antiga e o Ocidente enquanto uma possibilidade de comparação a exemplo do sinólogo Joseph Needham (1900-1995) que a compara a MTC à medicina hipocrática inclusive como estratégia de tornar seus conceito mais acessíveis aos ocidentais. Merecem ser citados também os trabalhos de Madel Luz e Svoboda & Lade, entre outros, que reconhecem na MTC e na medicina ayurvédica o paradigma da energia vital.


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Referências

China, Ministério da Saúde. Fundamentos essenciais da acupuntura chinesa (Livro dos Quatro Institutos) – Escola de Medicina Tradicional Chinesa de Beijing; Escola de Medicina Tradicional Chinesa de Shanghai; Escola de Medicina Tradicional Chinesa de Nanjig; Academia de Medicina Tradicional Chinesa. SP, Ed. Ícone, 1995

Corral, José Luis Padilla. Fundamentos da medicina tradicional oriental: Curso de acupuntura. SP, Roca, 2006

Gabriela Torres. Descifrando la medicina ancestral asiática. BBC Mundo Salud Martes, 19 de marzo de 2013 http://www.bbc.co.uk

Gwei-Djen Lu; Needham, Joseph. Celestial Lancets: A History and Rationale of Acupuncture and Moxa. UK, Cambridge U. Press, 1980. Disponível no Google Books

Haesbaert, Rogério. China, entre o ocidente e o oriente.SP, Ática, 1994

Luz, Madel T. Natural, Racional, Social ; Razão Médica e Racionalidade Científica Moderna, Rio de Janeiro, Ed. Campus, 1988

Svoboda, Robert; Lade, Arnie. Tao e Dharma, medicina chinesa e ayurveda. SP, Pensamento, 1998


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China & Índia



É notável a semelhança entre a medicina tradicional chinesa e ayurveda. Logo de início se vê a semelhança entre os cinco elementos e a equivalência da circulação vaso governador - vaso concepção (Du mai – Ren mai) e os canais ida e pingala. A semelhança com a medicina dos humores grega, especialmente os 4 elementos e as duas forças Kaos & Kosmos) também não é fruto do acaso.

Muitas outras semelhanças ou aproximações como os conceitos de Nadis e Marmas, respectivamente comparáveis à pontos e canais ou meridianos podem ser registradas. A primeira vista, na perspectiva desse recorte artificial que a antropologia médica faz do real isso se deve (com exceção dos achados referentes à Grécia) à unidade da Ásia.




Uma das descrições mais conhecidas entre nós é a dos chakras ou cakras melhor descrito no ocidente segundo Eliade, 1972 na tradução do Sat-cakra-nirûpana de Arthur Avalon em 1919 (Avalon, A. The serpent power. Londres-Madras, 1919). Descrições e ilustrações criadas a partir de antigas gravuras indianas dos chakras de diversas procedências são também muito conhecidas (pouco estudadas) e amplamente divulgadas. Aqui no ocidente se associaram aos estudos e concepções religiosas do espiritismo, o que pretendemos abordar em outra ocasião. Na concepção indiana, segundo Svoboda & Lade o corpo físico a energia e fluidos caminham através de canis visíveis (como nervos e vasos sanguíneos), enquanto o "prana" corporal vital (outro conceito sobre o qual se estabelecem paralelos ao Chi (Qi - "氣") da medicina tradicional chinesa) caminha através de condutos e plexos sutis chamados de Nadis e Chakras respectivamente (p.94). Marma é o nome dado ao ponto do corpo humano sob o qual os canais vitais se interceptam. (p.96)

Em seu Livro Tao e Dharma de Robert Svoboda e Arnie Lade (ed. Pensamento, SP, 1998) exploram as semelhanças e diferenças desses dois sistemas etnomédicos, seus autores comentam a acupuntura dos médicos tradicionais e tratadores de elefantes dessa ilha, quase indiana, que é o Sri Lanka (Ceilão), com influência chinesa, mas ressaltam que, embora as doutrinas chinesas e indianas partilhem temas comuns (destaca as semelhanças entre Chi e Prana), são essencialmente únicas, e seus conceitos não podem ser intercambiados na totalidade.

A pratica clínica e a experiência do médico ou terapeuta tem sido o método sob o qual se construiu até meados do século XX a ciência médica ocidental, possivelmente ainda temos muito a aprender com tais experimentos e registros médicos. Gabriel Stux, em artigo publicado no Medical Acupuncture, 1994, estende a aplicação tradicional de acupuntura por incluir o sistema indiano de chakra para diagnose como também tratamento. Em acupuntura de chakra, aparte dos pontos de acupuntura selecionados conforme a tradição chinesa, pontos de chakra adicionais são agulhados na área dos sete centros de energia. Assim o chakras são ativados e o fluxo de energia é estimulado.


Segundo ele essa técnica é uma expansão como também uma complementação da prática de acupuntura chinesa tradicional. Tem a possibilidade de aprofundar acupuntura clássica incluindo o sistema indiano de chakra, que na medicina indiana são centros de energia. Sete principais centros de energia se localizam na linha média do corpo, do perineum para o crânio. Além destes, há algumas dúzias de centros de energia menores de importância secundários que na maioria dos casos também correspondem com o local de pontos de acupuntura. Os chakras, porém, de modo semelhante aos Órgãos Chineses, possuem funções específicas cujas alterações podem ser diagnosticadas e tratadas através dessa técnica.

ver:
CHAKRA ACUPUNCTURE
Medical Acupuncture, 1994 Volume6/ Nº1 http://www.medicalacupuncture.org

e tradução, pelo presente autor: ACUPUNTURA DE CHAKRA

Eliade, Mircea. Yoga, imortalidade e liberdade, 1972. SP, Palas Athena, 1996